Diário da bolsa – 01jan2019 a 15jan2019 – fim

13/01/2019

  1. Errei a mão ao colocar o half-half no café, que transbordou rapidamente. Exclamei um “oh, my god!”, repetido pela mulher que me olhava assustada atrás de mim.

14/01/2019

  1. Departamento de vistos da Stony Brook University. Após um diálogo em inglês, a garota me pergunta: “Você é brasileira?”.
  2.  Um judeu diz estar em boa companhia ao averiguar que eu também tentava entrar em um edifício cujas portas frontais estavam fechadas. Na sequência, ao avistar uma placa que indicava a direção do Chávez Hall, na Stony Brook University, ele me pergunta, consternado, por que o prédio recebia aquele nome.

16/01/2019

  1. “Excuse me”, algumas vezes. O rapaz não queria falar comigo, só de desculpava ao espirrar.
  2. “Sorry”, disse a desconhecida sentada frente a mim, na NYPL, ao se levantar para ir embora.

17/01/2019

  1. Na Queens Library de Astoria, um velhinho escrevia um e-mail à prefeitura da cidade de NYC, se posicionando a respeito da nova sede da Amazon que possivelmente funcionará na região.
  2. Lite Bite diner. Duas senhoras discutiam porque uma delas pagou a conta completa. Após averiguarem com a garçonete que o cartão de crédito já havia sido passado, aquela que recebeu a gentileza solicitou os dados bancários da amiga para poder pagar sua parte.

30/01/2019

  1. Tempestade de neve: o mundo parecia um snow globe.

31/01/2019

  1. As linhas de metrô noturnas no Queens estavam loucas. Quase todas expressas. Parecia impossível voltar para casa. Um homem claramente havia urinado em sua roupa nessa espera.

03/02/2019

  1. No teleférico de Rossevelt Island em direção a Manhattan, um garoto diz ao outro, maravilhado com a paisagem: “I don’t wanna go home!”.
  2. Superbowl. Gisele Bündchen  aparece na TV. Brasileiros: “Brasil, Brasil, Brasil!”. Americana: “She is married with an asshole, guys!”. Brasileiros: “Gisele, Gisele, Gisele!”.

04/02/2019

  1. Quinze graus Celsius. A cidade renasce.
  2. Em Astoria, um homem soluciona a dificuldade para carregar uma caixa de pizza colocando-a dentro de uma sacola, sem a caixa.
  3. Uma garota cantava silenciosamente e performaticamente olhando-se no vidro da janela do metrô.
  4. Aparentemente vi o ator de Donnie Darko no metrô.
  5. Um homem passa muitas estações de metrô observando a foto de outro rapaz na tela de seu celular.

12/02/2019

  1. Uma garotinha queria se sentar de forma a enxergar tanto seu pai quanto sua mãe no trem da LIRR.
  2. Imigrantes dançam o moonwalk na lama deixada pela neve.
  3. Aqueles que retiravam a neve da calçada para facilitar a passagem dos pedestres não falavam inglês entre si.
  4. Penn Station: recebi um “fuck you” de um garoto para quem não dei dinheiro.

13/02/2019

  1. Fechar uma conta no Bank of America leva menos de cinco minutos.
  2. Caminhada pelas estradas de Stony Brook até a universidade. As rodovias têm calçadas.

15/02/2019

  1. Desaprendi a solicitar serviços em português. O habitual “sugar? milk?” foi subsituído por um “sem açúcar, né?” do comissário de bordo. Respondi o habitual “no”. Percebi que assim, na verdade, solicitava o oposto do que eu queria.

Uma carta piegas à Anelise Dias, Ana Cláudia Cury, Camila Rodrigues, Díjna Torres, Helena Fietz, Marina Carvalho, Mark Walker, Rosa Couto, Sara Malagutti e Tiago Nascimento.

Nova York, fevereiro de 2019.

Sou a terceira filha dos meus pais e sempre me pareceu estranho pensar na configuração da minha família antes que eu existisse (inclusive, uma escritora colombiana já escreveu sobre isso, mas não me lembro seu nome). Nesse sentido, hoje, 13 de fevereiro de 2019, me pego pensando no que foi a existência de vocês antes que a gente se reconhecesse como grupo, em setembro de 2018. Quem são vocês, afinal? Eu não sei.
A Ane me disse um dia que se lembra que eu usava uma camiseta amarela no dia que nos reunimos pela primeira vez. A verdade é que eu também me lembro de parte da roupa que ela usava: uma saia jeans. Isso me faz recordar que nossos corpos ainda não eram disformes por tanto pano naquele primeiro dia do grupo, quando o Mark destoava com sua roupa social de praxe, que, por sua vez, destoava da pizza do Joe’s que ele levou eu e Ane para comer. Ainda naquele dia, conheci Marina, que trabalha com arquivos, como eu; Camila, a única de área alheia às humanidades entre nós; e Ana, também das Letras e vivendo um período de sua vida tão similar ao meu. O Tiago, que eu já havia conhecido, também apareceu mais tarde, evidenciando sua principal característica: a de fazer “participações especiais” em eventos sociais.
Era aniversário da Sara quando eu a conheci, na minha primeira vez no High Line, quando também encontrei pela primeira vez a Díjna e a Rosa para levarmos uma enquadrada da polícia, que nos perguntou se estávamos consumindo álcool em pleno parque. É claro que estávamos, apesar da negativa.
Algum tempo depois, na manifestação do #EleNão em Nova York, vi a Helena pela primeira vez, creio, o que já mostrava sua essência e a desse grupo que formamos.
Isso me faz lembrar também que vivemos a aflição de ver nosso país eleger um presidente forjado no discurso fascista. Não bastasse um turno, foram dois, à distância. O segundo parecia especialmente o fim do mundo. A Helena aguentou comigo o último drink naquela noite. Não tínhamos e ainda não temos a dimensão da vida brasileira, seguindo, apesar dos pesares. Tudo se dilata à distância.
Mas quem são vocês, afinal? Eu não sei dizer quem foram vocês, mas essas pessoas que se constituíram nesse grupo, todos na volta dos seus 30 anos, que resolveram fazer parte de seus doutorados em Nova York, são pessoas que nasceram aqui pra mim e que, para além disso, renasceram. São pessoas que desafiaram muitas expectativas sociais e familiares para aqueles de nossa idade. São pessoas que não estavam apenas preocupadas com suas respectivas pesquisas, mas que entenderam esse doutorado sanduíche como uma forma de se ressignificarem como seres humanos. Isso não deveria ser uma dinâmica essencial no mundo acadêmico? O quanto conversamos sobre isso, sobre como nos entendemos num país estrangeiro, sobre o que somos longe de tudo e todos que nos são familiares?
Família. É o que fomos um para o outro em diversas ocasiões: Thanksgiving, Natal, Réveillon, Super Bowl, bares mil.
“Não se aproxime de brasileiros quando morar no exterior”, muitos disseram por aí. É necessário praticar o inglês (mas será que falávamos em inglês? Voltaremos ao Brasil falando esse português meio-a-meio que já nos foi motivo de piada no início).
Uma tênue familiaridade foi o que nos uniu no início, mas uma forte familiaridade é a que se construiu no decorrer dos meses.
Espero que vocês, esses brasileiros que conheci no estrangeiro, não se tornem estrangeiros no Brasil, quando voltarem para aquilo que não conheço e nem conheci de vocês. Até porque combinamos de passar o Réveillon de novo no bar porto-riquenho do Brooklyn dentro de dez anos, lembram? Espero que alguém tenha o contato do senhorzinho que também fez a promessa conosco. Espero que ele esteja vivo.

Coberta de roupa, de neve e de pieguice, deixo um agradecimento e um até logo. Gosto muito de cada um de vocês.

Aliança

Uma aliança num dedo não significa muitas coisas além de que o dono da mão cujo dedo veste a aliança é uma pessoa casada.

Mas uma aliança que tilinta ao se chocar contra a mesa de metal do Airbar em Jamaica Station, logicamente posta em ação por uma mão que a veste, significa uma ordem.

Que faça a gentileza de desaparecer aquele homem negro que dormia sobre a mesa até que chegasse a aliança matrimonialmente histérica, dura, totalitária.

O homem que recém despertou no susto é a antítese da aliança porque almeja discrição. Pedir esmola nos Estados Unidos é uma vergonha. Ele descreve sua miséria em uma breve frase, em um papelão, o qual dispõe ao seu lado quando se senta numa calçada em Manhattan.

De que serve o olhar submisso ao solo se o homem não é capaz de sumir das nossas vistas tão habilmente quanto a aliança que sorrateiramente escorrega dentro de um bolso qualquer de calça?

Diário da bolsa – 12nov2018 a Réveillon2019

16/11/2018

  1. Ganhei um café porque a atendente achou meu perfume muito cheiroso.

19/11/2018

  1. Linha E. Dois irmãos apresentam uma coreografia de hip-hop no vagão de metrô, se utilizando das barras de ferro para fazer suas acrobacias. Tudo isso sob os não-olhares de uma mulher e um homem, demasiado distraídos em suas próprias existências.

20/11/2018

  1. Lavanderia. “Ahora en Venezuela no hay nada”. “Ay, Fulana, ya estoy acostumbrado. En Cuba no hay nada hace tiempo”.

22/11/2018

  1. Thanksgiving no Harlem. Madrugada. Um homem desconhecido insistia para que eu entrasse em seu carro.

24/11/2018

  1. Linha R do metrô. Um homem sentado em um dos bancos alaranjados. Ao seu redor, ao menos 12 mochilas. Ele conversa sozinho, ou consigo mesmo. Em certo instante diz “thanksgiving”. Ninguém senta ao seu redor. Na 49th Street Station ele passa a colocar nas costas todas as mochilas. Desembarca na Times Square, como eu.
  2. Uma garota resolveu que eu olhava para ela de um jeito inadequado. Queria brigar. Termino minha refeição de cabeça baixa.

25/11/2018

  1. Off Broadway: Days of Rage. A cada beijo trocado pelos atores em cena, uma japonesa ria maliciosamente ao meu lado.

28/11/2018

  1. Instituto Cercantes de New York City. Evento: New Literature from Europe. Um senhor entra no auditório um pouco antes da terceira e última mesa, composta por três escritoras e um escritor. O assunto: redes sociais e literatura. O homem tentou interferir o painel enquanto  inúmeras vezes, sem sucesso. Quando abriram o microfone para pergunta, ele foi o primeiro a levantar a mão. Para começar, disse estranhar a formação da mesa, com várias mulheres e apenas um homem. Depois disso, começou uma espécie de palestra a respeito dos perigos da tecnologia. A coordenadora da mesa pediu para que ele fosse direto ao ponto, que fizesse sua pergunta. “Mas que pergunta?”. Ao cortarem seu microfone, ele gritou: “Eu sou um prêmio Nobel! Vocês têm que me escutar!”.

01/12/2018

  1. Quatro policiais, em silêncio, observavam impassíveis um homem caído na estação de metrô.
  2.  Um homem entra no vagão do metrô com fones de ouvido e dança sozinho, como se estivesse em uma festa.

03/12/2018

  1. Um peixe espatifado no meio da Sexta Avenida.
  2. New York Public Library. Um homem supostamente trabalha de óculos escuros.

04/12/2018

  1. Uma pessoa de gorro vermelho e sapatos barulhentos (de sapateado?) caminhava entre prateleiras na NYPL.

Quase todos os dias do outono/inverno

  1. Luvas perdidas por toda a parte.

10/12/2018

  1. Um homem na NYPL lia compenetradamente. O alarme de seu relógio começou a tocar. Um funcionário da biblioteca se dirigiu até ele para solicitar a desativação do som incessante.
  2. Um homem se sentou na minha frente. Soluça. Assusto. Ele passou a me encarar incessantemente. Recolhi minhas coisas e me retirei.

Réveillon 2019

  1. Bar portorriquenho no Brooklyn. Um chinês de cabelo azul financiou uma playlist de música brasileira selecionada por mim e outros amigos.
  2. Uma mulher cantou ópera em frente ao bar.

Diário da bolsa – 11out a 11nov2018

21/10/2018

  1. Madrugada na Broadway de Astoria. Dois homens abandonam um urso de pelúcia gigantesco.

27/10/2018

  1. Harlem. Linha 1 do metrô. Uma mulher fumava dentro do vagão. Minutos depois elogiou os sorrisos meu e de uma amiga. Após agradecermos, de um grito de “New York” vindo dela, seguido de um “uhul” nosso, ela se colocou na passagem entre os vagões do trem em movimento. Se voltava às vezes para acenar para a gente.

28/10/2018

  1. Bolsonaro eleito.

30/10/2018

  1. Hutington Station. Um homem ofendia todos que esperavam o trem na estação. Fazia arminha com os dedos. Vestiu uma máscara de monstro na sequência.

31/10/2018

  1. Fantasias por toda a parte.

01/11/2018

  1. Bronca por beber água na frente dos Delacroix no Metropolitan Museum.
  2. Bronca por deixar minha garrafa d’água em um mesanino do Met.
  3. Bronca por aproveitar o fogo da vela de uma mesa em um bar para queimar um palito de dente.
  4. Bronca por atravessar a rua quando o sinal estava fechado para mim.

02/11/2018

  1. Bronca por quase ter levado uma porta na cara na NYPL.

08/11/2018

  1. Trem da Long Island Rail Road (LIRR). Ao abrir a porta do banheiro, vejo em fragmentos de segundo uma mulher com os dois pés sobre o vaso.

10/11/2018

  1. Briga no trem da LIRR.

Diário da bolsa – 05set a 10out2018

11/09/2018

1) Aniversário dos atentados ao World Trade Center. Selfies, retratos e poses no Ground Zero.

2) Um homem pisava pesado no metrô em movimento. Sentou-se ao lado de uma mulher, ainda que houvesse muitos assentos vazios. Ajudo-a silenciosamente com meu olhar.

16/09/2018

1) 42nd Steet Station. Um homem irritadamente perdido gritava, subindo as escadas: “7 [uma das linhas do metrô]! Where are you?”.

2) Um homem transtornado entrou no vagão do metrô, ofendeu todos os presentes e para uma mulher específica reservou um “Fuck you!”.

07/10/2018

1) Defeito nas caixas de som do metrô: voz de pato informava as estações.

09/10/2018

1) Um oriental com transtorno obsessivo compulsivo no metrô. Segurava o espelho com uma mão enquanto passa gel no cabelo. Tentava ajeitar uma mecha da franja com pente fino. Um homem com um café nas mãos, uma mulher usando jeans e eu segurávamos o riso.

2) Um oriental pigarreava na NYPL. Cumplicidade no incômodo é revelada pelo olhar de um rapaz que dividia a mesa comigo.

10/10/2018

1) “Miss, miss! Your dress!”. Eis que minha mochila puxava meu vestido e deixava minha bunda de fora na estação de trem.

Nostalgia da luz

Não é uma metáfora: as luzes de Nova York me afetam a vista. Enxergo menos.
Não se trata da pieguice do epíteto de cidade que nunca dorme ou das inúmeras luzinhas que compõem Manhattan. Já disse: não afirmo isso no sentido figurado, aludindo ao blackout que sofre nossa visão após o flash da máquina fotográfica.
Tudo me parece iluminado de menos.
Difícil para ler, para caminhar na calçada à noite, para enxergar as teclas do computador…
Tampouco é uma metáfora política, já que pode ser política pura: as lâmpadas fluorescentes que os brasileiros passamos a usar durante a Crise do Apagão, na época do racionamento de energia dos anos FHC, me fizeram passar a ver demasiado.
As lâmpadas incandescentes aliadas ao meu astigmatismo ainda me matam.

Diário da bolsa – 22ago a 05set 2018

22/08/2018

  1. É tarde da noite em Astoria. Um homem com o dedo em riste na cara do dono de uma grocery: “I am a muslim. You know what it means?”

23/08/2018

  1. Muitas mulheres usando peruca no mesmo vagão do metrô.

24/08/2018

  1. Nos bancos em frente ao Gay liberation monument, dois brasileiros conversavam. Um contava para o outro detalhes “apimentados” de sua relação com alguém. O interlocutor o repreendeu, pediu para que falasse baixo. A resposta foi que ali ninguém estava entendendo.

26/08/2018

  1. Um homem se emocionou com um casal carinhoso que estava em sua frente no metrô.

27/08/2018

  1. Um velho passou resmungando por mim no Bryant Park. Eu comia chocolate e escutei um resmungo com a palavra “smoke”. Ao meu lado, uma garota fumava. Levou uma bronca do homem. Não é permitido fumar no parque.
  2. Um garoto chutava e batia violentamente em um banco do Bryant Park. Uma garota se afastava rapidamente.
  3. “Where are you from?”. “Brasil”. “Obrigado”.

28/08/2018

  1. Levei uma bronca na calçada em frente a minha casa. Não entendi o porquê.

29/08/2018

  1. Uma mulher passou por mim em Mahattan engolindo o choro.
  2. Small é uma das moças que trabalha no banheiro do Bryant Park. Ela é da Guiana.

30/08/2018

  1. Muitos sem teto passam a noite dormindo nos vagões da linha E do metrô.

03/09/2018

  1. Duas pessoas se acusavam reciprocamente de roubo no Starbucks em Astoria.

04/09/2018

  1. Sala 316 da NYPL. Uma garota observava o quadro pendurado o meu lado, não se contendo. “This is my grandfather. Isn’t it amazing?”. Trata-se de um retrato de George Washington.

05/09/2018

  1. Uma russa no ônibus me disse que há muito sexo nos filmes brasileiros.
  2. Uma pomba sem pé me perseguiu ao redor de um totem que apresenta os jazzistas do Queens.
  3. Já dentro do ônibus interno da Stony Brook University, uma mulher se pôs em frente à porta, do lado de fora, e gritou descontroladamente com o motorista. Todos no ônibus permaneceram em silêncio e não esboçaram reação. O motorista esperou o ataque terminar e respondeu: “I don’t know”. Fechou a porta do ônibus e arrancou.

Diário da bolsa – 07ago a 21ago 2018

Comecei a perder a disciplina. Não quero imitar o Levrero, mas tenho que criar uma rotina para essa escrita. Além disso, tenho notado que a natureza do que me impressiona começou a mudar.

07/08/2018

  1.  Sentou ao meu lado, na NYPL, um velho (com cabelo e roupa ensebados) extremamente metódico. Ele separava as moedas em saquinhos e consultava livros com mapas. Parecia incomodar as pessoas ao redor.

08/08/2018

  1. Entre as plataformas 7 e 6 da Long Island Rail Road – Jamaica, um homem vestido de social fazia movimentos estranhos: uma espécie de dança. Sua sacola estava no chão e ele batia palmas.

09/08/2018

  1. No Bryant Park, ao lado da mesa em que eu estava sentada, um homem abordou outro que caminhava, dizendo: “You made my day, man… one day at a time”, ao que o outro respondeu: “Thank you, I’m so glad”.

10/08/2018

  1. No Pret a Manger, um homem frente a mim na fila deixou US$1,00 de gorjeta, valor que foi abatido de minha compra.

13/08/2018

  1. Uma garota meditava debaixo de um guarda-sol no Bryant Park. Chovia.
  2. Um garoto de 10 aproximadamente uns 10 anos passou abraçado a uma garota da mesma idade pela escadaria da NYPL. Deu um beijo em seu rosto e voltou a ser criança sob o olhar de seu pai.
  3. Um rapaz, ao ver que eu procurava meu Metrocard dentro da mochila, me ofereceu seu cartão, no qual ainda restava uma viagem. Eu agradeci, disse que não era necessário. “Are you sure?”; “Yes, thank you so much”.

15/08/2018

  1. Na sala 315 da NYPL uma mulher interrompeu minha concentração já se desculpando: “could you spell to me the word harassment?”. Com medo de errar, disse que não sabia.

16/08/2018

  1. Depois de uma apresentação do Broadway in Park, um homem atrás de mim exclamou: “Oh, my god! This is terrible!” Eu comecei a gargalhar e em seguida conversamos. Ele disse que foi um dos roteiristas do The Muppet Show (além de me xavecar).

17/08/2018

  1. O motorista do Uber era também cantor de música italiana.

18/08/2018

  1. Dois garotos passaram por mim em uma esquina e em seguida abandonaram um carrinho cheio de roupas usadas.

21/08/2018

  1. É o mesmo homem que dorme e se senta aos pés de José Bonifácio, o patriarca da independência do Brasil, no Bryant Park.
  2. Na NYPL, um homem vestia uma camiseta na qual se lia: Death sucks.

Diário da bolsa – 31jul a 06ago 2018

Inspirada em Mario Levrero, que escreveu o seu “Diario de la beca” e, quem sabe, em Ben Lerner, cujo romance Leaving Atocha Station se passa no período de seis meses em que o protagonista passou em Madrid após ganhar uma bolsa de estudos (ou até mesmo no meu amigo Junot, que fez um diarinho enquanto estava na África do Sul), cá estou eu, a escrever um Diário da bolsa. Não tenho pretensões literárias nem transcendentes com isso, mas registrar situações que me chamaram a atenção nos meus dias de doutorado sanduíche em Nova York. Por isso, a intenção é sempre fazer descrições breves sem desdobramentos ou argumentações. A princípio, não impus nenhum padrão. Não sei quanto tempo isso pode durar, uma vez que não acontecem coisas interessantes todos os dias. Talvez a gente também pare de se surpreender com a terra estrangeira. Ou talvez eu me canse de me expor e resolva manter as anotações no meu caderninho. No final das contas, talvez seja uma vingança para todas as vezes que eu pensei que fosse lembrar de algo em viagens para esquecê-lo no dia seguinte.

31/07/2018

  1. Nova York parece outro lugar no calor.
  2. Na 75th Street, em Woodhaven, vi um garoto, de uns onze ou doze anos, com o braço inteiro tatuado.
  3. Na linha J do metrô, um homem gordo, em farrapos, adentrou o vagão em que eu estava. Ele começou a cantar como se estivesse em um musical, mas na verdade pedia esmola. No começo pensei se tratar de uma performance artística. Não tive coragem de olhar seu rosto.

01/08/2018

  1. A mulher que me atendeu no Bank of America comemorava com um “yey” a cada passo bem sucedido no processo de abertura de conta.
  2. Conversando com a Wanda, a moça que abriu minha conta no Bank of America, perguntei se ela era uma new yorker logo após ela ter me perguntado se eu gostava da cidade. Ela disse que sim, mas que quando criança sua mãe nunca a levou para Manhattan (“to the city”). Completou: talvez seja uma forma de nos proteger.
  3. O maquinista do metrô coloca a cabeça para fora da janela para ver se não há ninguém entrando ou saindo dos vagões.
  4. Na New York Public Library (NYPL), uma funcionária gritava em um dos corredores do terceiro andar que havia encontrado um garoto e uma garota juntos no banheiro. Ela apontava os dois com os dedos.

02/08/2018

  1. A xenofobia velada passaria desapercebida para os mais ditraídos: as atendentes do consultório médico fingiam não entender o que falava, numa espécie de preciosismo linguístico. A enfermeira se irritou porque eu não sabia meu peso em libras e minha altura em pés.

03/08/2018

  1. Numa lanchonete da Broadway de Astoria, a garçonete não me deixava esvaziar a caneca de café.
  2. Em uma Rite Aid, mesmo depois de eu ter afirmado várias vezes para a atendente que eu não possuía o cartão da loja que me ofereceria mais de 50% de desconto na compra, ela de desdobrou para que eu usufruísse da promoção: perguntou para outra cliente se ela possuía o cartão e por fim requisitou o desconto ao gerente.

04/08/2018

  1. Andando por Mid-Manhattan, percebi que os sem teto dormiam sentados em cadeiras ou bancos, nunca deitados.

05/08/2018

  1. Um esquilo passou vários minutos me encarando e gritando no Central Park.
  2. Demorei quatro horas para ir do Central Park sul até Astoria: as alterações sofridas pelas linhas de metrô no final de semana me fizeram tomar inúmeros trens erroneamente.

06/08/2018

  1. A atendente de uma cafeteria fingiu escutar a palavra “bathroom” quando eu falava “iced coffee”.
  2. Um oriental passou pela Broadway de Astoria empinando uma moto.
  3. Na sala de leitura da NYPL não é permitido deixar garrafas d’água sobre a mesa nem dormir.